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Aurélio Agostinho (do latim, Aurelius Augustinus), Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho foi um bispo católico, teólogo e filósofo que nasceu em 13 de Novembro de 354 em Tagaste (hoje Souk-Ahras, na Argélia); morreu em 28 de Agosto de 430, em Hipona (hoje Annaba, na Argélia). É considerado pelos católicos santo e Doutor da Igreja.

Vida[]

Agostinho cresceu no norte da África colonizado por Roma, educado em Cartago. Foi professor de retórica em Milão em 383. Seguiu o Maniqueísmo nos seus dias de estudante e se converteu ao cristianismo pela pregação de Ambrósio de Milão. Foi batizado na Páscoa de 387 e retornou ao norte da África, estabelecendo em Tagaste uma fundação monástica junto com alguns amigos. Em 391 foi ordenado sacerdote em Hipona. Tornou-se um pregador famoso (há mais de 350 sermões dele preservados, e crê-se que são autênticos) e notado pelo seu combate à heresia do Maniqueísmo. Defendeu também o uso de força contra os Donatistas, perguntando "Por que (...) a Igreja não deveria usar de força para compelir seus filhos perdidos a retornar, se os filhos perdidos compelem outros à sua própria destruição?" (A Correção dos Donatistas, 22-24)

Em 396 foi nomeado bispo assistente de Hipona (com o direito de sucessão em caso de morte do bispo corrente), e permaneceu como bispo de Hipona até sua morte em 430. Deixou seu mosteiro, mas manteve vida monástica em sua residência episcopal. Deixou a Regula para seu mosteiro que o levou a ser designado o "santo Patrono do Clero Regular", que é uma paróquia de clérigos que vivem sob uma regra monástica.

Agostinho morreu em 430, durante o cerco de Hipona pelos Vândalos. Diz-se que ele encorajou seus cidadãos a resistirem aos ataques, principalmente porque os Vândalos haviam aderido ao arianismo, que Agostinho considerava uma heresia.

Agostinho e os Judeus[]

Agostinho escreveu no Livro 18, Capítulo 46, da Cidade de Deus, "Os Judeus que O assassinaram, e não criam ele, porque coube a Ele morrer e viver novamente, foram ainda mais miseravelmente assolados pelos romanos, e completamente expulsos de seu reino, onde estrangeiros já tinham dominado sobre eles, e foram dispersos pelas terras (tanto que não há lugar onde eles não estejam), e são assim, por suas próprias Escrituras, um testemunho para nós de que não forjamos as profecias a respeito de Cristo." 1. Escreveu também uma das principais obras que apóia a crença na Trindade.

Agostinho considerou a dispersão importante porque ele acreditava que isto era um cumprimento de certas profecias, provando assim que Jesus era o Messias. Isto se deve ao fato de Agostinho crer que os judeus que foram dispersados eram inimigos da Igreja Cristã. Ele também cita parte da mesma profecia que diz "Não os mates, para que meu povo não se esqueça; espalha-os pelo teu poder". Algumas pessoas usaram as palavras de Agostinho para atacar os judeus, enquanto outros as usaram para atacar cristãos. Veja cristianismo e anti-semitismo.

Influência como teólogo e pensador[]

Augustine of Hippo

Santo Agostinho de Hipona

Na história do pensamento ocidental, sendo muito influenciado pelo platonismo e neoplatonismo, particularmente por Plotino, Agostinho foi importante para o batismo do pensamento grego e sua entrada na tradição cristã, e posteriormente na tradição intelectual européia. Também importantes foram seus adiantados escritos influenciadores sobre a vontade humana, um tópico central na ética, e que se tornaram um foco para filósofos posteriores, como Schopenhauer e Nietzsche, mas ainda encontrando eco na obra de Camus e Hannah Arendt (ambos os filósofos escreveram teses sobre Agostinho).

É largamente devido à influência de Agostinho que o cristianismo ocidental concorda com a doutrina do pecado original, e a Igreja Católica sustenta que batismo e ordenações feitos fora dela podem ser válidos (a Igreja Católica Romana reconhece ordenações feitas na Igreja Ortodoxa Oriental e Ocidental, mas não nas igrejas protestantes, e reconhece batismos de quase todas as igrejas cristãs). Os teólogos católicos geralmente concordam com a crença de Agostinho de que Deus existe fora do tempo e no "presente eterno"; o tempo só existe dentro do universo criado.

O pensamento de Agostinho foi também basilar em orientar a visão do homem medieval sobre a relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do conhecimento, mas entendia que a fé em Cristo vinha a restaurar a condição decaída da razão humana, sendo portanto mais importante. Agostinho afirmava que a interpretação das escrituras deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo natural. Escritos como sua interpretação do livro bíblico do gênesis como o que chamaríamos hoje de um "texto alegórico", vão influenciar fortemente a Igreja medieval, que terá uma visão mais interpretativa e menos literal dos textos sagrados.

Tomás de Aquino tomou muito de Agostinho para criar sua própria síntese do pensamento grego e cristão. Dois teólogos posteriores que admitiram influência especial de Agostinho foram João Calvino e Cornelius Jansen. O Calvinismo se desenvolveu como parte da teologia da Reforma, enquanto que o Jansenismo foi um movimento dentro da Igreja Católica; alguns jansenistas entraram em divisão e formaram sua própria igreja.

Agostinho foi canonizado por reconhecimento popular e reconhecido como um doutor da Igreja. Seu dia é 28 de agosto, o dia no qual ele supostamente morreu. Ele é considerado o santo padroeiro dos cervejeiros, impressores, teólogos, e de um grande número de cidades e dioceses.

Escritos[]

  • Da Doutrina Cristã, 397-426
  • Confissões, 397-398
  • A Cidade de Deus, iniciado c. de 413, terminado 426.
  • Da Trindade, 400-416
  • Enquirídio
  • Retratações
  • De Magistro
  • Conhecendo a si mesmo

Cartas[]

  • Da Catequese dos não instruídos
  • Da Fé e do Credo
  • Fé concernente às coisas que não se vêem
  • Do benefício da crença
  • Do Credo: Um sermão para catecúmenos
  • Da continência
  • Da bondade do casamento
  • Da Santa Virgindade
  • Da bondade da viuvez
  • Da mentira
  • Para Consêncio: Contra a mentira
  • Do trabalho dos monges
  • Da paciência
  • Do cuidado de ser tido pelos mortos
  • Da Moral da Igreja Católica
  • Da Moral dos Maniqueístas
  • Das duas almas, contra os Maniqueístas
  • Atos ou disputa contra Fortunato, o Maniqueísta
  • Contra a Epístola de Maniqueu chamada Fundamental
  • Resposta a Fausto o Maniqueísta
  • Concernente à Natureza de Deus, contra os Maniqueístas
  • Do Batismo, contra os Donatistas
  • Resposta às cartas de Petiliano, bispo de Cirta
  • A correção dos Donatistas
  • Méritos e remissão do pecado e batismo de crianças
  • Do Espírito e da carta
  • Da Natureza e Graça
  • Da perfeição e retidão do homem
  • Dos procedimentos de Pelágio
  • Da graça de Cristo, e do pecado original
  • Do casamento e concupiscência
  • Da alma e sua origem
  • Contra duas cartas dos Pelagianos
  • Da graça e livre arbítrio
  • Da repreensão e graça
  • A predestinação dos santos/Dom de perseverança
  • O Sermão do Monte de Nosso Senhor
  • A harmonia dos Evangelhos
  • Sermões sobre lições selecionadas do Novo Testamento
  • Tratados sobre o Evangelho de João
  • Sermões sobre a Primeira Epístola de João
  • Solilóquios
  • As enarrações, ou exposições, dos Salmos


Agostinho foi um autor prolífico em muitos gêneros -- tratados teológicos, sermões, comentários da escritura, e autobiografia. Suas Confissões são geralmente consideradas como a primeira autobiografia; Agostinho descreve sua vida desde sua concepção até sua então (com cerca de cinqüenta anos) relação com Deus, e termina com um longo excurso sobre o livro de Gênesis, no qual ele demonstra como interpretar a escritura. A consciência psicológica e auto-revelação da obra ainda impressionam leitores.

No fim de sua vida (426-428?) Agostinho revisitou seus trabalhos anteriores em ordem cronológica e sugeriu que teria falado de forma diferente numa obra intitulada Retrações, que nos daria uma imagem considerável do desenvolvimento de um escritor e seus pensamentos finais, além de se arrepender de ter utilizado demais de filósofos pagãos. assim disse o louco izair


A exegese[]

A exegese de Ambrósio está centrada no Antigo Testamento, e o jovem ouvinte Agostinho declara ter freqüentemente encontrado aí resposta para questões perturbadoras. Não se conhece dele a não ser um único escrito consagrado ao Novo Testamento, aliás o mais volumoso. O texto de Lucas é estudado sistematicamente, como o são, no caso do Antigo Testamento, a narrativa da criação, doze Salmos e as 22 estrofes do Salmo 118. Habitualmente o texto anunciado por Ambrósio é antes um pretexto. Ora ele reagrupa deliberadamente um florilégio de citações bíblicas comentadas em torno de um tema: a morte, a fuga dos séculos, a felicidade... Ora prolonga o texto de partida mediante outro texto da Escritura no qual se demora longamente: o reencontro de Isaac e Rebeca desemboca definitivamente no Cântico dos cânticos. Muitas vezes o personagem principal do texto torna-se a encarnação de uma virtude, e o comentário torna-se um tratado sobre a paciência, a castidade ou o jejum... Esse desenvolvimento supõe uma interpretação alegórica. Ambrósio, sem negá-lo, ultrapassa constantemente os fatos históricos. Nos quatro poços cavados pelos servos de Isaac (Gn 26 15-24), ele descobre não verdades “terrestres”, mas do “espiritual”, “a profundeza de uma ciência abissal”, uma tripla sabedoria inspirada nas três partes da filosofia antiga, que ele situa além do racional: moral, física (ou metafísica) e mística, divisão essa encontrada pelo menos quinze vezes em sua obra. Alhures, ele vê nos personagens e acontecimentos do Antigo Testamento as realidades da vida de Cristo. Noé e as águas do dilúvio são “tipos” que anunciam a “verdade”: Jesus, seu sangue e as águas do Batismo. Alegoria e tipologia misturam-se numa procura progressiva de Deus, que tem seus altos e baixos, enquanto espera a visão. Já se chamou muitas vezes a atenção para os empréstimos de Ambrósio em sua obra

Moral, física e mística[]

Do mesmo modo, no próprio livro do Cântico, Salomão exprimiu claramente esta tripla sabedoria, embora tenha sido nos Provérbios que ele disse que aquele que quisesse entender a sabedoria devia escrevê-la três vezes para si mesmo (cf. Pr 22,20). No Cântico, pois, a esposa diz ao esposo: “Como és belo, meu querido, como és gracioso! Como é verdejante o nosso leito! As colunas de nossa casa são os cedros e os lambris, os pés de zimbro” (1,16-17). Podemos entender esta passagem da moral. Onde, pois, Cristo descansa com a Igreja, senão nas obras de seu povo? Porque onde reinavam lascívia, orgulho, iniqüidade, o Senhor Jesus diz: “O Filho do Homem, porém, não tem onde recostar a cabeça” (Mt 8,20). A respeito da física, que ficamos nós sabendo? Ela diz: “Sento à sua sombra, assim como eu desejo; seu fruto é doce ao meu paladar” (Ct 2,3). Porque aquele que se eleva acima das coisas terrestres e para o qual as coisas deste mundo estão mortas porque o mundo está crucificado para ele e ele para o mundo (Gl 6,14) despreza tudo o que existe debaixo do sol e de tudo foge. A respeito da mística ele diz: “Faz-me entrar na taberna, seu estandarte sobre mim é Amor” (Ct 2,4). Porque assim como a vinha rodeia a sua parreira, assim também o Senhor Jesus, como uma vinha eterna, rodeia de alguma maneira seu povo, com os braços do amor.

Surlsaac et l’áme, IV, 27-29, PL, 14, 512 C-153 A = CSEL, 32/1, pp. 659, 21-660, 16, trad. G. Nauroy, a partir de 5. Sagot. Os quatro poços (cf. Gn 26,15-24) foram explicados precedentemente por Ambrósio em seu contexto (IV, 22) em que o primeiro poço, chamado de poço da visão, é identificado com a parte racional da alma.

A moral[]

Se a obra exegética de Ambrósio, divulgada sob este nome, é preponderante, nem por isso o bispo de Milão deixa de ser essencialmente um moralista. Ele é, antes de tudo, o autor de uma célebre exposição geral de moral prática. Sobre os deveres dos clérigos inscreve-se na moldura do tratado Sobre os deveres, de Cícero: “Ele adotou ou adaptou o título da obra de Cícero, a estrutura dos três livros, os desenvolvimentos, alguns temas e noções, e estas últimas às vezes em sua formulação textual”, escreve G. Madec, mas a critica, mesmo admitindo alguma influência “provavelmente (...) mais importante do que aquela que Ambrósio não teria querido”, destaca sua vontade de independência e considera os empréstimos mais literários que filosóficos. Por meio do honesto (1), do útil (II) e de seus conflitos (III), o autor trata, em especial, sobretudo na primeira parte, das grandes virtudes que ele chama de cardeais: a prudência, a justiça acompanhada da beneficência, da benevolência e até da gratidão, a fortaleza e a temperança. Mas a Bíblia insufla outra alma nesse corpo e toda a atividade moral está orientada para a vida eterna. A obra, de composição fluida e de terminologia equivoca, mal emanada de Cícero e de uma Antiguidade ao mesmo tempo explorada e contestada, não é uma síntese entre o cristianismo e o estoicismo predominante, nem ‘o primeiro tratado de moral cristã mas uma série de definições e de conselhos, na maioria das vezes tradicionais, dirigidos sobretudo aos clérigos, mas também ao povo cristão. Ambrósio é mais ele próprio num grande número de estudos e de exortações particulares. E o caso de uma parte de suas cartas, em que ele trata com Simpliciano da “verdadeira liberdade”, com o conde Studion da demência cristã no exercício da justiça, com o diácono Ireneu do bem supremo... É também ocaso, com o já vimos, de muitos escritos exegéticos, em que se assiste ao desfile da paciência com Jó, da castidade com José, do jejum com Elias, da penitência e do perdão dos grandes com Davi... Se procurarmos temas predominantes, poderíamos ficar, no bem, com a misericórdia, e no mal, com o abuso das riquezas. Certas formas da misericórdia aparecem já no objeto mesmo dos opúsculos e comentários enumerados. No tratado Da penitência, o autor sublinha a compaixão de Cristo oposta à intransigência dos novacianos. Pede para si mesmo “a graça da compaixão”, que chama de “a virtude suprema”. Convida a “pesar de alguma forma a fraqueza humana nos próprios ombros em lugar de rejeitá-la”. Faz alusão à “ovelha cansada”, tema que ele trata magnificamente no final de sua Exposição sobre o Salmo 118: “Vem, pois, SenhorJesus, procurar teu servo, procurar a ovelha cansada (...). Vem trazer a salvação à terra, a alegria ao céu”. “Os braços de Cristo são os braços da cruz”, diz ele alhures. Nabot encarna precisamente o homem vítima da dureza e do egoísmo. É ocasião de páginas terríveis contra a rapacidade dos ricos: “São vossos imensos palácios que vos enchem de orgulho? (...) Recobris os muros enquanto desnudais os homens. (...) A pedra preciosa que cintila em teu dedo poderia muito bem salvar a vida

"Vem procurar tua ovelha"

28.(...) Vem, pois, Senhor Jesus, procurar teu servo, procurar a ovelha perdida. Vem, pastor, procurar-me, como José procurou suas ovelhas. Tua ovelha andava desgarrada enquanto tu, lá nas montanhas, habitavas. Deixa lá as tuas outras noventa e nove ovelhas e vem procurar a única que se desgarrou. (...) Vem, mas não com a vara, mas com a caridade e a mansidão do espírito. 29.Não hesites em deixar na montanha as tuas noventa e nove ovelhas; demorando nas montanhas, elas não precisam temer a incursão dos lobos rapaces. (...) Vem me procurar, pois eu também te procuro. Procura-me, encontra-me, toma-me contigo; leva-me. Aquele que procuras, podes encontrá-lo; digna-te acolher aquele que tiveres encontrado e colocá-lo sobre teus ombros. Esta piedosa carga está longe de ser fastidiosa para ti, nem fastidioso este transporte de justiça. (...) Aqueles que deixaste para trás não haverão de ficar tristes; pelo contrário, darão graças pelo retorno do pecador. Vem trazer a salvação à terra, a alegria ao céu. 30.Vem procurar tua ovelha, não por intermédio de servos ou mercenários, mas vem em pessoa. Toma-me nesta carne que, em Adão, foi um fracasso; toma-me a mim, saído não de Sara, mas de Maria, Virgem incorruptível, virgem pela graça de qualquer mancha de pecado. Leva-me sobre tua cruz, salvação dos que erram, único lugar de repouso para quem está fatigado, único elemento de vida para quem morre. Fxposé du Ps. 118, sermão 22, trad. D. Gorce.

A terra é de todos[]

A natureza derramou todas as coisas em comum para todos. Com efeito, Deus mesmo ordenou que todas as coisas fossem criadas de tal sorte que o alimento fosse comum para todos e que a terra, por conseguinte, fosse uma espécie de propriedade comum de todos. Foi, pois, a natureza que produziu o direito comum, e a usurpação (usurpatio) que criou o direito de propriedade. Ora, sobre este ponto, dizem os filósofos, “os estóicos achavam que os produtos da terra são todos criados para as necessidades dos homens e que os homens foram gerados por outros homens, a fim de que eles próprios possam ajudar uns aos outros” (Cícero, Dos deveres, 1, 7, 22). Ambrósio, Surtes devoirs des clercs, 1,28,132, C.U.F.,1984, p. 158, trad. M. Testard.

O Senhor nosso Deus quis que esta terra fosse a posse comum de todos os homens e que os frutos dela fossem destinados a todos. Mas a avidez repartiu os direitos de propriedade. É, pois, justo, se reivindicas para ti em particular uma coisa que foi posta em comum para o gênero humano, ou antes para todos os seres vivos, que distribuas entre pobres pelo menos alguma coisa dela, de forma que não recuses o alimento a quem deves a partilha de teu direito. Evposé du Ps. 118, VIII, 22, PL, 15, 1303 C-1304 A = CSEL, 62/5, pp. 163, 23-164, 3.

A natureza não é de forma alguma deficiente: ela deu os alimentos, não propôs vícios. Fez seus dons em comum, para que tu não reivindiques certas coisas como próprias. (...) Os elementos são dados a todos em comum. Surl’Hexaéméron, V, 1, 2 e VI, 8,52, PL, 14, 206 C e 263 B = CSEL, 32/1, pp. 141, 16-18 e 244, 2-3.

A terra foi estabelecida em comum para todos, tanto ricos como pobres; por que então vos arrogais para vós somente, ó ricos, o direito de propriedade? A natureza não conhece ricos, ela nos gera todos pobres. Sur Naboth, 1, 2, PL, 14, 731 C, em A-G. Hamman, Riches etpauvres..., p. 220, trad. Fr. Quéré-Jalmes.

O mundo foi criado para todos, e vós, que sois uma minoria de ricos, quereis a todo custo reivindicá-lo para vós. SurNaboth, III, 11, PL, 14, 734 B, ibid., p. 224.

Não é teu aquilo que distribuis ao pobre, estás apenas lhe restituindo o que é dele. Porque foste tu que usurpaste aquilo que é dado a todos para o bem de todos. A terra pertence a todos, e não aos ricos. SurNaboth, XII, 53, PL, 14, 747 B, ibid., p. 252. Este texto é citado pela encíclica Populorum progressio, n. 23.


A virgem fecunda na Igreja[]

É assim que a Igreja é imaculada em sua união, fecunda em seu parto, virgem em sua castidade, mãe em seus filhos. Ela nos gera, pois, permanecendo virgem, tendo concebido não de um homem, mas do Espírito. Gera-nos na qualidade de virgem, não na dor de seus membros, mas na alegria dos anjos. Ela nos nutre como virgem não de um leite corporal, mas do leite [da doutrina] de que fala o Apóstolo (l Cor 3,2) e que nutriu a infância ainda frágil do povo [de Deus]. Qual esposa tem mais filhos do que a santa Igreja, que é virgem em seus sacramentos, mãe em seu povo e cuja fecundidade a Escritura mesma atesta quando diz: “Ei-los aqui em multidão, os filhos da desolada mais numerosos que os filhos da desposada, diz o Senhor” (Is 54,1). É a nós que pertence aquela que não tem marido [terrestre], mas um Esposo [celeste], quer dizer, a Igreja para todos os povos, a alma para cada um daqueles que, pela palavra de Deus, sem que seu pudor seja atingido, se une ao Esposo etemal, indene, fecunda espiritualmente.

Sur les vierges, 1, 6, 31, PL, 16,197 CD, trad. L. Bouyer, ibid., pp. 544-545. de todo um povo”. Ambrósio encontra também na história de Tobias ocasião para denunciar a usura e a avareza. Com suas sátiras, desprende uma moral do uso dos bens terrenos em que se percebe facilmente a marca dos capadócios. Mas existe um ponto sobre o qual ele talvez insista mais do que eles no conjunto de sua obra: a comunidade original das riquezas. A tese aparece em Comentário do Hexaémeron e Sobre Nabot, em que ela pode até provir de seus mestres gregos, mas as expressões mais vigorosas se encontram na Exposição sobre o Salmo 1 18e nos Deveres dos clérigos, tratado sistemático em que elas são inspiradas em Cícero e às vezes tiradas dele literalmente.

A espiritualidade[]

Há poucos textos em que Ambrósio se entrega a uma fria filosofia. Seja qual for o gênero literário, a cada momento aflora sua alma apaixonada pelo Verbo. Esse homem de ação é um espiritual que faz da partilha do fervor um dever seu: Cristo deve “viver em mim e falar em mim”, diz ele comentando 5. Lucas. As sete cartas a Horonciano são um verdadeiro curso de espiritualidade. Nelas ele pede a seus discípulos que vivam continuamente na presença de Deus: “Aquele que procura a salvação de Deus medita dia e noite”. “Medita, pois, sempre, e tem sempre nos lábios as realidades divinas. (...) Fala contigo mesmo. (...) Fala enquanto caminha. (...) Fala durante o sono.” Ele situa no centro de sua vida Cristo, que é “tudo para nós”. A perfeição encarna-se nas virgens, às quais ele consagrou quatro tratados. Dá-lhes por modelo a Virgem Maria, “imagem da castidade e ideal da virtude”. Associa-as à fecundidade universal da Igreja, esposa de Cristo, “virgem em seus sacramentos, mãe em seu povo Mas todo cristão é convidado, como as virgens, à experiência mística vivida em Cristo. Sobre Isaac e a alma é

Os segredos da experiência mística[]

A estas palavras, a alma colhe a embriaguez dos mistérios celestes, e, como que adormecida pelo vinho, e, por assim dizer, colocada num estado de êxtase e de arrebatamento, diz: “Eu durmo, e meu coração vela” (Ct 5,2). Então, surpreendida pela luz da presença do Verbo, enquanto ela repousava com as pálpebras dobradas, é despertada pelo Verbo (...). Pela quarta vez já, ele a desperta do sono, enquanto ela velava com o coração, a ponto de ouvir sempre a voz daquele que batia. Mas, tendo demorado um tanto para se levantar, por não poder alcançar a rapidez do Verbo, quando ela abre a porta, o Verbo já tinha passado. E ei-la que sai, fiada em sua palavra, para procurá-lo no meio de suas feridas, suas feridas de amor. A custo, finalmente ela o encontrou e o reteve, para nunca mais perdê-lo.

Sur lsaac et l’âme, VI, 50, PL, 14, 519 C-520 A = CSEL 32/1, 673, 21-675, 1.


Os saltos do Esposo rumo à Igreja e à alma[]

6.“Ei-lo, diz-nos o Cântico do esposo, que vem, semelhante à gazela”. (...) Ele salta sobre as alturas para subir até a esposa. (...) Ele salta acima de Adão; passa por cima da sinagoga, salta sobre as nações; passa por cima dos juizes. Vejamos seus saltos: ele salta do céu ao seio da Virgem, de seu seio ao presépio, do presépio ao Jordão, do Jordão à cruz, da cruz ao túmulo, do sepulcro ao céu... Agora ele ainda salta, agora ele ainda corre do coração do Pai por cima de seus santos, do Oriente ao Ocidente, do Setentrião ao Meio-Dia. 7.(...) Deus é o deus das montanhas, não dos vales. Onde salta ele? “Sobre as montanhas.” Se és uma montanha, ele salta sobre ti. Ele salta sobre Isaías, salta sobre Jeremias, salta sobre Pedro, João, Tiago. “Há montanhas ao seu redor” (51 124,2). Se não podes ser uma montanha e não tens a envergadura dela, sejas pelo menos um vale para que, sobre ti, suba Cristo e, se ele vier passar, o faça de tal modo que sua passagem te guarde sob sua sombra. 8. Falamos de Cristo e da Igreja. Falemos agora da alma e do Verbo. A alma do justo é esposa do Verbo. Se ela deseja, se ela cobiça, se ela roga, e roga assiduamente e sem cessar, se ela está inteiramente voltada para ele, parece-lhe subitamente entender a voz daquele que ela não vê. (...) 9.Não é verdade que, quando temos em vista algum ponto das Escrituras sem poder encontrar a explicação disso, parece-nos de repente vê-lo subir sobre os ensinamentos mais elevados, como sobre as montanhas, depois, parece-nos como sobre as colinas, iluminar nosso espírito, para levar até o intimo de nosso sentido o que nos parece difícil chegar a encontrar. O Verbo, a partir de então, de ausente se torna presente em nossos coraçoes... Exposé du Ps. 118, sermão 6, PL, 15, 1269 C-1270 C, trad. D. Gorce

a aventura da alma humana, que se purifica das volúpias carnais para se unir à Rebeca, à sabedoria. Inversamente, Rebeca é também a alma ou a Igreja; ela é figura do Antigo Testamento, que vê vir para ela Isaac-o-Cristo. Na Fz~cposição sobre o Salmo 118, Ambrósio descreve poeticamente todos os acontecimentos da história do Verbo como tantos saltos da esposa na direção da Igreja. Como a gazela do Cântico dos cânticos, “ele salta sobre as montanhas” que são Isaías, Jeremias, Pedro, Tiago e João. Mas, acrescenta ele, “se não podes ser uma montanha (...), sê ao menos um vale para que, sobre ti, suba Cristo”. Depois de ter “falado de Cristo e da Igreja”, passa a falar “à alma e ao Verbo”, a essa atenção em que “o Verbo, de ausente, se torna presente em nossos corações”. Assim, Arnbrósio vincula sempre a união pessoal com o Verbo e a da Igreja com Cristo. Uma se faz na outra. Insiste sobre a oração na Igreja, convida a receber cotidianamente “nosso pão de cada dia”, o corpo de Cristo: “Recebe cada dia aquilo que deve te aproveitar cada dia (...). Aquele que não merece recebê-lo cada dia não merece recebê-lo uma vez por ano”. É preciso tornar cotidiano o hoje da ressurreição. É assim que se procura a construção da Igreja, Eva mística saída do novo Adão, que será um dia “transportada ao céu”.

Ambrósio permaneceu a vida toda um dignitário romano. Ardente patriota, ao Império que abandonava progressivamente seus deuses tradicionais ele apresentou o cristianismo rigoroso como religião nacional diante dos invasores heréticos. Grande deste mundo, familiar de imperadores, longe de os bajular como bispo cortesão, ele os enfrenta nobremente

Da Eva carnal à nova Eva[]

86. (...) A mãe dos viventes é a Igreja que Deus construiu tendo por pedra angular o próprio Cristo, no qual todo o edifício está aparelhado e se eleva para formar um templo (Ef 2,20). 87. Que venha Deus, pois; que construa a mulher: a outra como ajuda de Adão, esta para Cristo; não que Cristo precise de um auxiliar, mas porque desejamos, nos, e procuramos chegará graça de Cristo por meio da Igreja. No momento ela ainda está em construção, por enquanto ela ainda se forma, por enquanto ainda a mulher está sendo moldada, por enquanto ela ainda está sendo criada. (...) Vinde, Senhor Deus, construí esta mulher, construí a cidade. Que vosso servo venha também; porque creio em vossa palavra: “E ele que construirá minha cidade” (Is 45,13). Eis a mulher, mãe de todos, eis a morada espiritual, eis a cidade que vive para sempre, porque ela não poderia morrer: é precisamente ela a cidade de Jerusalém, que agora vemos sobre a terra, mas que será arrebatada para o alto com Elias. Exposé de l’Êuangile selon Luc, II, 86-88, SC, n. 45 bis, pp. 113-114, trad. G. Tissot.


A humildade de um bispo[]

67. Possas tu reservar-me, a mim também, ó Jesus, o cuidado de lavar teus pés, que sujaste enquanto caminhavas em mim! Possas tu apresentar-me, para que eu as lave, as manchas de teus pés, que prendi a teus passos por minha conduta! Mas onde encontrarei a água viva com a qual poderia lavar teus pés? Não tenho água, mas tenho lágrimas. Possa eu, lavando teus pés com elas, purificar-me a mim mesmo! Como fazer para que tu possas dizer de mim: “Muitos pecados lhe são perdoados, porque ele muito amou”. Confesso que minha dívida é mais considerável, mas que muita coisa me foi perdoada, a mim que fui arrancado ao barulho das querelas do fórum e às terríveis responsabilidades da administração pública para ser chamado ao sacerdócio. Temo, pois, ser considerado um ingrato se amo menos, quando muito me foi perdoado. (...) 71.Digna-te, pois, vir, Senhor Jesus, a este túmulo que sou! Lava-me com tuas próprias lágrimas, porque em meus olhos demasiado secos não encontro lágrimas suficientes para poder lavar minhas faltas. Se chorar por mim, estarei salvo. Se sou digno de tuas lágrimas, estarei livre do mau odor de todas as minhas faltas. Se eu for digno de que chores nem que seja um pouco, tu haverás de chamar-me para fora do túmulo deste corpo, dizendo: “Vem para fora!” (...) 73.Vela, Senhor, sobre teu presente; tem sobre tua custódia o dom que me fizeste apesar de minha resistência! Eu sabia que não era digno de ser chamado ao episcopado, porque eu me tinha entregado totalmente a este mundo. É por tua graça que sou o que sou. E sou, sem a menor dúvida, o mínimo de todos os bispos e o mais pobre em méritos. Mas uma vez que também eu empreendi algum trabalho por tua santa Igreja, encarrega-te dos frutos deste trabalho. Não permitas que se perca, agora que é ele sacerdote, aquele que chamaste ao sacerdócio quando ainda estava perdido. E acima de tudo, permite-nos saber partilhar do fundo do coração a aflição daqueles que pecam. E esta a virtude suprema, pois está escrito: “Não te rejubilarás sobre os filhos de Judá no dia de sua ruína e não farás grandes discursos no dia de sua tribulação”. Cada vez que se trata do pecado de alguém que caiu, que eu seja o primeiro a compadecer dele! Possa eu, em vez de me derramar em invectivas com orgulho, de preferência gemer e chorar, de tal modo que ao chorar o outro, chore também a mim mesmo, dizendo: “Tamar é mais justa do que eu!”. Sur Ia Pénitence, II, 8, 67-73, SC, n. 179, pp. 177-181, trad. R. Gryson.

O repouso de Deus no homem[]

Que aqui termine nossa exposição, pois o sexto dia já se terminou e a totalidade do mundo á se completou; quero falar agora do homem em sua perfeição. Nele estão contidos os princípios de todos os seres animados e de alguma maneira a totalidade do universo, e toda a beleza da criação. Decerto fazemos silêncio porque Deus repousou de todas as obras deste mundo. Repousou no retiro do coração do homem. Repousou em seu espírito, em seu pensamento. Ele tinha moldado, com efeito, um homem capaz de razão, seu imitador, rival de suas virtudes, ávido das graças celestes. Deus repousa neles, ele diz: “E para este que eu olho: para o humilhado, o que tem o espírito abatido, e que treme à minha palavra” (Is 66,1-2).

Dou graças ao Senhor nosso Deus cuja obra foi tal que ele teve de repousar dela! Ele fez océu e não consta que tenha repousado por isso. Fez também a terra e nunca li que tenha repousado! Fez o sol, a lua e as estrelas, e nem nesse caso consta que tenha repousado. Mas eis que leio que ele fez o homem e então repousou, pois tinha feito alguém a quem ele pôde perdoar os pecados! Ou então, talvez já se tivesse antecipado o mistério da paixão futura do Senhor, ou tivesse sido revelado que Cristo repousaria como homem, ele que desde todo o sempre preparou o repouso num corpo para a redenção do homem, de acordo com o que ele próprio disse com justeza: “Deitei-me e dormi; acordei: o Senhor me sustenta” (51 3,6). L’Hexaéméron, VI, 10, 75-76, PL, 14, 272 B-273 A = CSEL, 32/1, pp. 260, 22-261, 18 (fim da exposição sem a doxologia).

quando sua consciência o convida a isso, chegando a impor-lhes mais de uma vez seu ponto de vista, mas como teólogo e sempre respeitando cada um deles. Ele se serviu algumas vezes de sua autoridade e até se alegrou com ela, mas foi para favorecer a ortodoxia, com certa falta de tolerância; mas previu e denunciou o perigo da confusão de poderes. Ele, tão firme diante do erro, diante da injustiça ou de sua ameaça, mostra-se sensível aos imperadores crianças, como Graciano ou Valentiniano II, ou mesmo ao grande Teodósio: “Eu amei este homem”. Sua correspondência com a irmã Marcelina é profundamente fraternal, e ele faz um duplo elogio, todo afetuoso, de seu irmão Sátiro, que renunciara à administração pública para dirigir seu palácio episcopal. Esse aristocrata não fizera sua revolução social para se tornar amoroso dos pobres e se colocar do lado dos pequeninos? Ele sempre se confessou pecador entre os pecadores, com uma comovente humildade. O próprio Santo Agostinho atesta a benevolência desse “homem de Deus”, que o acolheu com “a caridade de um bispo”: “Comecei a amá-lo”, escreve ele. Quem não o ama? catecúmeno Agostinho é seduzido também pela eloqüência do pregador e por sua exegese espiritual do Antigo Testamento. Ambrósio deixa uma obra abundante e variada. A delicadeza de sua fé, de seu coração e de sua pena inspira-lhe páginas de uma comovente beleza, dignas de entrar nos florilégios mais seletos. Sublinha-se naturalmente que ele tomou dos que o precederam e de seus contemporâneos o melhor de suas doutrinas, às vezes até na expressão. É bem verdade que ele lhes deve muito. Mas, se é um leitor dócil de seus colegas, que ajudam a traduzir a fé de sua Igreja, não deixa de manifestar sempre a respeito de seus inspiradores uma independência crítica. Plotino, mas sobretudo Fílon e Cícero não são menos fontes que modelos a contrariar, e dos quais ele parece sentir necessidade para formular e desenvolver seu próprio pensamento. Seja o que for, por sua abertura aos autores gregos, ele tem o mérito de haver colocado, com mais sedução que os tradutores, o Oriente ao alcance do Ocidente. Ambrósio, na página admirável que coroa sua exegese da obra dos seis dias, justifica o repouso de Deus: ele criara “o homem em sua perfeição”. Deus certamente descansou quando Ambrósio abriu os olhos.

Ver também[]

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