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A Tradição católica é a ação contínua da Igreja Católica, que através dos apóstolos e da sucessão apostólica, transmite "tudo aquilo que ela [a Igreja católica] é e tudo quanto [ela] acredita", para todo o mundo ininterruptamente desde o advento salvífico de Cristo até os tempos hodiernos. (conf. Dei Verbum, 1965)[1]

No decorrer dos tempos, a Igreja Católica deixou vestígios de sua existência —aqui estes vestígios se restringem aos atos, de e de moral, que a Igreja Católica fez durante sua história. Estes vestígios sempre reportam a Cristo, e são em sua maioria escritos em forma de pergaminhos, livros, documentos, cartas e mais recentemente até mesmo locuções e filmagens gravadas. Tudo isso é conhecido como sendo a parte material da Tradição católica. Esta parte material, por si só, é morta e não tem valor nenhum. E nas palavras de Bento XVI, "a Tradição católica não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas". Antes, a Tradição católica é viva. E o que lhe da vida é a justa hermenêutica dos vestígios da Igreja católica no decorrer da história humana. Esta hermenêutica é a parte formal da Tradição católica. Quando esta parte formal se encontra unida à parte material, a Tradição católica se torna como que um "rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes". (conf. BENTO XVI, 2006)[2].

Segundo esta definição acima, a Tradição católica é composta de duas partes, como as nomeiam os filósofos tomistas: sua parte material, ou seja, os vestígios de Cristo na história, quer sejam de Jesus Cristo quer sejam da Igreja católica. E de sua parte formal, ou seja, da justa hermenêutica cuja autoridade e valor se fundamentam na própria Igreja católica. Foi assim também que o Concílio de Trento entendeu e considerou a Tradição católica, como sendo "uma sucessão contínua na Igreja católica".(conf. Concílio de Trento, 1546)[3].

Tradição viva[]

Assim, uma característica de maior importância para os católicos é a consideração do “...caráter vivo da Tradição, que - como é claramente ensinado pelo Concílio Vaticano II - sendo transmitida pelos Apóstolos ... progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer mercê da intima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer merce da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade”(JOÃO PAULO II, 1988)[4].

Tradição e sua parte formal[]

Agora, é mister que se considere que toda hermenêutica necessita de uma mente ou inteligência. Ora, para os católicos Jesus Cristo homem, não só é chefe da cristandade, mas é parte de uma mesma realidade na Igreja católica. Esta realidade é comparada pelo apóstolo Paulo, com o corpo, dando a origem à idéia de corpo místico de Cristo. Assim, Jesus Cristo seria a cabeça do corpo místico, enquanto que todos os outros católicos seriam os membros desta mesma e única realidade do corpo místico de Cristo. Este corpo místico também é chamado de Cristo-igreja, que se estende na história da cristandade.

Assim, a Inteligência que dá a justa hermenêutica ao católico, é a Inteligência de Cristo-Igreja que desde quando criada, corre pela história do gênero humano como um rio de graças e dons, dando a entender aquilo que se deve entender a respeito de um Deus feito homem. Para o católico este Deus é Jesus Cristo que como um rio, desde o princípio do advento salvífico, juntamente e igualmente com a Igreja jorra fonte de vida e luz em toda a humanidade.

Esta Inteligência de Cristo-Igreja se expressa verbalmente em seus ensinamentos, através do vigário de Cristo cá na terra, o Papa. Assim, é a Igreja católica, através do Papa, que se expressando, dá ao católico o entendimento da “justa chave de leitura e de aplicação” de todos os vestígios passados da Igreja quer sejam eles escritos em forma de pergaminhos, livros, documentos, ou cartas etc. (conf. Msgr. GEORGE AGIUS, 1928)[5]

Referências[]

  1. PAULO VI, Concílio Vaticano II, Dei Verbum, 18 de novembro de 1965
    Parágrafo 8: E assim, a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão contínua, até à consumação dos tempos. Por isso, os Apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que observem as tradições que tinham aprendido quer por palavras quer por escrito (cfr. 2 Tess. 2,15), e a que lutem pela fé recebida dama vez para sempre (cfr. Jud. 3)(4). Ora, o que foi transmitido pelos Apóstolos, abrange tudo quanto contribui para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé; e assim a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita.
  2. BENTO XVI, Audiência Geral, A comunhão no tempo: a Tradição, Quarta-feira, 26 de Abril de 2006
    Texto:Concluindo e resumindo, podemos afirmar portanto que a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade. E sendo assim, neste rio vivo realiza-se sempre de novo a palavra do Senhor, que no início ouvimos dos lábios do leitor: "E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos" (Mt 29, 20).
  3. Papa Paulo III, Concílio de Trento, Session IV, 8 de April, 1546
    Texto: Following, then, the examples of the orthodox Fathers, it receives and venerates with a feeling of piety and reverence all the books both of the Old and New Testaments, since one God is the author of both; also the traditions, whether they relate to faith or to morals, as having been dictated either orally by Christ or by the Holy Ghost, and preserved in the Catholic Church in unbroken succession
  4. JOÃO PAULO II, Carta Apostólica "ECCLESIA DEI", 2 do mês de Julho do ano 1988
  5. Msgr George, D.D. Agius. Tradition and the Church. TAN Books and Publishers, Inc. isbn:0-89555-821-1.
    Texto: Author's Preface: "The descent of the Holy Ghost gave the Church an "Intelect" which is constantly enlightened, susteained and directed to govern the Faithful in an unmistakable way."

Ligações externas[]

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